Finais Difíceis

Tudo grita... "tem que ser!"

sábado, maio 28, 2005

Um estádio, uma inspiração



Que me lembre só lá fui assistir a um jogo uma única vez... No mínimo estranho: sou setubalense, vitoriano, todos o são na minha alegre moradia, assim como grande parte dos meus amigos. O meu avô, segundo me contou o meu pai, foi um dos fundadores do estádio - tenho inclusivamente uma revista que celebra a inserção de iluminação no recinto onde o meu avô escreveu um artigo acerca do momento. O meu irmão mais velho, assim que nasceu, foi registado como sócio do VFC - pelo meu avô, claro está. Eu, infelizmente, não o conheci: só viria a nascer 8 anos depois... Mas se quiser ser mais actual, que melhor honra não seria ser da mesma cidade e clube que o actual treinador do Chelsea, José Mourinho?... Porém eu pareço ter esta ambígua relação com o futebol. Talvez devido às precauções que tomaram comigo desde cedo - devido à espinha bífida - o escasso contacto com uma bola não me ligou muito ao mundo do desporto. Pratiquei natação na infância, cheguei mesmo a destacar-me como nadador, mas acabei por abandonar as piscinas de 25 metros do Naval devido a uma série de viroses e recaídas que, na altura, foram atribuídas pelo médico e pelos meus pais às constantes correntes de ar a que estava sujeito - porque os balneários atravessavam a entrada no local, do lado do Sado. Enfim... Mais que não fosse, a Educação Física foi a minha cruz das disciplinas, já que por indicação médica estava proíbido de frequentar as aulas práticas. Ao fim duns anos acabei por lhe devotar um certo ódio que, pelos vistos, se tornou numa constante durante muito tempo. Hoje reconheço o valor do desporto, escolar ou não, para a saúde. Mas continuo a resumir o fenómeno do futebol, como espectáculo, a mais um daqueles jeitos humanos: sem lógica, com lógica, tanto faz, fazêmo-lo na mesma... Uma movimentação excessiva de dinheiro, mal empregue. Mas enfim. Se fosse a Madalena, estava já mais que apedrejado.

Lembro-me de algumas tardes, na altura em que o Vitória atravessava um bom momento e o meu pai ia assistir à maioria dos jogos em casa, tardes nas quais eu ia um pouco mais cedo com a minha mãe buscá-lo ao estádio e lá entrava, sorrateiramente - mas o polícia não dizia nada, o futebol é isto, camaradagem... - e via os últimos momentos de êxtase das equipas depois de mais de hora e meia de actuação nesse palco verde, através das grades cinzentas (ou seriam brancas?) que se interpunham. O que é de facto extraordinário no VFC é o tipo de adesão da família vitoriana - os seus adeptos. Um extremo positivismo quando tudo corre bem... Se a lei de Murphy surge e estraga a festa, mais parece uma família de mafiosos, pois escorrega tudo para o extremo oposto ao primeiro. A relação amor-ódio. Contudo estas são apenas observações pouco cuidadas de alguém que não vive o evento. Não há como destituir alguém de uma ideia tão fixa. É de facto possível pertencer-se a algo por escrito ou falado, e não do coração. Não leio as notícias do desporto nos jornais. Discuto algumas questões, por vezes, com o meu pai, eventualmente com o RV, mas pouco mais. Fórmula 1, ténis, voleibol, NBA, ciclismo, atletismo, natação... Não há lugar no meu coração para nada disso. São desportos, fazem bem à saúde (sem dopping nem exageros). E é tudo, no que me toca.

Do estádio do Bonfim ouviu-se falar numa conversão em centro comercial. Também já falaram na possível transformação da escola Secundária de Sebastião da Gama num hotel, frente ao jardim - muito convidativo, com o shopping (ou será "chópingue" que se escreve agora?) logo do outro lado! Vale da Rosa seria a localização do novo estádio do nosso clube... Boatos, enfim.

Enquanto é tempo e há actividade, deliciem-se com mais uma fotografia tirada pelo RV:



E façam muito desporto! :)